segunda-feira, 7 de julho de 2008

Falta Malandragem e Coragem (Parte 02)





Uma pista de skate. Eu só me arrisquei uma vez, não caí, não foi a primeira e a última por medo, dor. Meu lance era bicicleta. Cross, não essas que ajudam a subir morro.
Era moleque, 9, 10 anos, não era xiita com música, cinema, tv. Mas tinha boas referências, fosse em casa com os irmãos mais novos de minha mãe, fosse na rua, na praça, no half pipe.
Nessa época, hardcore era hardcore. Ningúem queria saber de rádio, "MTV get off of the air" era o lema (aqui nem existia MTV, rs). Eu era novo, mas as vezes andava de bicicleta perto de uns caras mais velhos, ali na pracinha do skate, ou jogava bola na rua e o cara de 15 anos aproveitava a saída dos pais para por o som no talo, chegando na rua. Por intermédio desses caras, um pouco mais, hun, "descolados" (ê palavrinha), ouvia de rebarba Dead Kennedys, Grinders, Ramones, REM, Sepultura, Clash, T.S.O.L., Metallica, Husker Du, Bad Religion, Red Hot Chili Peppers, Living Colour, etc.
Esse povo era malandro. No bom sentido, se é que existe e deve haver malandro no bom sentido. Acho que não. Esse povo era malandro, e só. O povo da rua. As bandas de rua. Claro que na época eu ouvia os reis do rodeio Dire Straits e Queen fase comédia, eu era moleque, pô. Ouvia os rocks nacionais que circulavam direto também. Hoje aprecio menos, assumo, principalmente o termo "rock nacional". Mas isso é outra estória.


Nessa época aí não havia internet. Informação musical? No máximo, umas revistas bizz achadas em casa, ou aqueles programas de tv que passavam clipes na manchete...
Mas informação boa estava nas ruas.
Vejam os garotos de hoje. Criados em apês. Medo generalizado. Filho da minha namorada tem 11 anos e nem sabe o nome do vizinho da mesma idade.
Mas tem a internet. Bem asséptico. Amigos vituais. Ninguém cai da bike. Muita informação. Pouco uso.
Fica difícil mostrar o nariz que deve ser socado. Quando era moleque, entre amigos houve uma disputa na rua. Corrida de bicicleta. Um amigo queimou a largada, me fechou e saiu na frente. Era uma volta no bairro. Eu esperei ele dar a volta. De longe ouvia ele gritando, me zuando em cima da bicicleta nova dele. Eu esperei em pé, segurando minha bicicleta. quando ele passou, a minha pobre bike escorregou de minhas mãos e fez com que ele voasse. Foi lindo. Entre amigos, ficamos acertados que eu deveria tomar um soco. Normal.
Como cobrar atitude de verdade, essa palavrinha hoje até mardita, de uma banda de rock atual? de garotos tão limpos?















Matam a música popular constantemente (meu lado punk diz graças a Deus!), o rock morreu, o samba acabou. Impossível isso.
Estão matando realmente a sujeira, a safadeza, a gana. A malandragem.
Os moleques estão aceitando ficar presos em casa. Montam banda tardiamente, quando estão na faculdade, ou com os colegas de condomínio.
Rock bom é o safado, o Red Hot Chili Peppers implorando a MTV para que ela os toque, num hardcore veloz de 2 minutos. Terminando com um riff de gun'n'roses, tirando uma onda legal.
Hoje o Red Hot toca em shopping. Baladinhas FM, triste.
Assim como o Metallica bom era aquele do speed metal, de garotos descabeçados. Metallica hoje processa os fãs.
E o samba bom era quando Mussum, malandro, velho de guerra, declamava:
Lá no morro,
quando eu olho pra baixo,
acho a cidade uma beleza.
"O povo!":
Equandoeutônacidadequeeuolhopracimameucumpadre,
fico contemplando a natureza...

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