terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Questão de Identidade

E depois de finalmente dormir uns tempos (um viva aos tarja preta!), nosso digníssimo blog digitando diretamente aos leitores lunáticos, volta à ativa.
Numa postagem abaixo, citei um termo que sempre me incomodou. "Rock nacional". Não por ser o rock Nacional, de Brasil. Poderia ser da China que me incomodaria da mesma forma.
O termo ROCK, claro, assim como punk, alternativo, hardcore, sempre foi usado de diversas formas, na maioria das vezes, de forma incorreta. O apelo, a ATITUDE (outra palavrinha usada à rodo), sempre foi usada com um único interesse, claro: vender.
Pois é amiguinho, tenho uma notícia triste pra lhe dar. Ramones, Britney Spears e Rolling Stones fazem parte de um mesmo saco; a indústria. Espero com toda sinceridade não ter sido, com essa declaração, a causa do suicídio de ninguém. "Como assim, feladaputa? Tá me dizendo que Britney Spears é a mesma coisa que Ramones, imbecil?". Hum... no sentido de mercado, sim! Pode ser que Joey Ramone não fosse tão culpado assim sobre isso (não que eu ache isso) como a Britney ou Madonna (pobres garotas!) mas a indústria se apropria dessa atitude para cada público. É a calça rasgada de Joey que vai vender pro público "x", as pernas da Britney que vão vender por público "y", e a nostalgia vai vender Beatles pro público "z".
No fim, é tudo marcação colorida num quadro branco dentro de uma sala de engravatados. O cara tá lá tocando num pardieiro, manda seu público se foder, a platéia acha radical. Um dia passa um senhor respeitável, vê aquilo e diz: Dólares! E aqueles caras tocando num boteco de quinta em NY estarão prontinhos, encartados, distribuídos no sul do mundo para filhos de diplomata da capital de um país qualquer, para filhos de operários de um cidade suja desse mesmo país. Ou outro.
A termologia. É só para dividir tudo em prateleiras. A britney vai ficar do lado da Madonna. Os Stones podem até ficar do lado dos Ramones, pois "é tudo rock!". Querer dividir para um público que não tem uma real identidade com "cultura rock", pois aquilo não faz e talvez nunca fez parte de SUA tradição o que é rock, punk, indie, no mínimo, é pretensão. Fica pra estudioso. Ou gueto. Ou nerd. Não pra megastore. Não para a novela. Não para o ouvinte médio.

O Brasil não é o país do rock. Nem do punk. Muito menos é alternativo. Nunca foi alternativa. Sim, é do samba, do candomblé, do axé e do forró. Apropriações são boas e até necessárias. E gosto é o que mais perto do que se tem de uma noção do ideal de democracia.
Grupos e artistas interessantíssimos já surgiram nesse país e em outros graças a misturas de culturas, algo que realmente não deve fixar fronteiras. Desde que se conclua que, fronteiras e prateleiras são tolices.
E a maior de todas as tolices, pelo menos para este que aqui digita, é a prateleira chamada "rock nacional".
Tsc. Bom, eu não sei nadar. Nunca soube. Quando criança, minha mãe me enfiou em várias escolinhas de natação. Já morei em cidade litorânea também. Não é questão de opção nem dificuldade física. É mental mesmo, rs. Tenho pêlos demais pra não me considerar meio macaco. Já reparou como se isola esses nossos (pelo menos meus) meio-irmãos em zoológico? Circulam-os com água. Macacos não gostam de água. Só pra beber. Deixo o lance de nadar com peixes. Anfíbios. Répteis.
Sei que muitos nadam. Na verdade, no desespero, qualquer mamífero nada. Talvez até eu, macaco. Mas nasci pra aquilo? Definitivamente, não.
Talvez por isso, em minha cabeça de meio-macaco, o termo "rock nacional" não se aplica. É uma fronteira que não me diz nada. É uma prateleira com brinquedo defeituoso. Porquê?
Porque simplesmente não tem lógica. Sim, acredito num contexto, independente do que a indústria acha disso. Ela, a indústria, achar que passando de 3 minutos o rock vira progressivo, tudo bem. Talvez eu concorde. Ela achar que a garota que não tem voz, mas é gostosa, é pop, beleza! Mas rock nacional, não, por favor.
Rock vem de um contexto totalmente fora do de qualquer outra nação que não a americana. Os ingleses? Bom, eles tem conexões óbvias de in-dependência americana (assim como funciona na minha cabeça a austrália, por exemplo).
Mas se surgir uma banda, mesmo que tenha todos os elementos do chamado ROCK, na Índia, eu vou chamar de de música indiana. Influência de rock, mas música indiana. O Mano Negra pra mim, é música francesa. Tem influências latinas? do rock? sim. Mas surgiu num contexto totalmente francês, numa visão daquela região européia. Perto dos ingleses, mas com um pensamento, uma cultura que os separa, pra depois os reunir.
Sinceramente.
Eu adoro o Ultraje a Rigor, mas eles teriam lógica em algum outro país que não aqui? O contexto era outro. Os anos oitenta no Brasil foram anos de abertura. Política. Social. Cultural. Mas aquilo é música brasileira. Tem coisas de rock ali, mas é música brasileira. Porque é a cultura daqui. Aí existe a fronteira; por mais que você admire seu vizinho, use o mesmo tênis que ele, ache a grama dele mais verde, a sua escova de dente ainda é sua; e você não quer que ele ponha a mão. É natural isso. É a velha questão de posse. Você tem sua cultura. Admire a cultura dos outros, seja aberto a sua experiência, mas você não vai conseguir mudar seu local de nascimento. Simples assim.

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