terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Fã-niquito

Fãs me metem medo.

Começar um post com uma frase assim, bom. Mais direto impossível.
Lembrem-se das religiões, tribos, seitas.
Crendices.
Me peguei um dia ouvindo "I wanna hold your hand", numa versão do reverendo Al Green.
Linda.
Caso típico e mais óbvio de fanatismo cego no mundo da música, a beatlemania já fez com que se queimassem discos e línguas.
E pelo menos uma morte direta.
Não se leve tão a sério assim.
Já ouvi fã dizendo que não se pode gostar de só uma fase dos Beatles, porque tudo, han, É Beatles.
Já vi fã de Beatles com 30 discos de TODAS as sessões de gravações de UM disco dos Beatles.
Isso é "baixável" nos dias de hoje.
Que coisa mais baixa...

Bom. Você é livre, preencha seu tempo como quiser, mas eu não quero ouvir let it be em 50 versões.
Na verdade, acho que já ouvi essa mais do que precisava em toda minha vida...
Gosto muito de Beatles, mas não gosto de Beatles de terninho.
Acho frouxo (acho que fui setenciado à pena capital por algum fanático neste exato momento, rs).
Acho frouxo porque uns sete ou oito anos antes dos Beatles de terninho aparecerem, caras muito mais selvagens já tinham feito verdadeiro estrago com a música popular americana.
Malditos sulistas assassinos de Gershwin, haha.
Adoro eles.
Quase todos negros, impossíveis de virarem pôsteres em quartos de adolescentes texanas de 62.
Ou das adolescentes classe-média brasileiras de 62. Ou 72.
Ou 2002...
Beatles levam meu crédito por conseguirem quebrar essa barreira, como Elvis antes.
É incrível como as pessoas levam a sério certas coisas.
Na verdade, todas as coisas.
Al Green certa vez largou a música "pagã" e voltou-se para a igreja.
Nem sempre é fácil lidar com dogmas.
Veja a cena de "Ray", quando Charles perverte um hino religioso em "I got a woman", o espanto de sua mulher. Ufa!
Acho que covers, se tem UMA razão de existir, devem ser assim. Pervertidas.
Claro que um artista pode brincar, ou entreter seu público ao vivo com músicas de terceiros.
Mas pra gravar em disco, é necessário o risco. (Na verdade deveria se pensar assim pra toda e qualquer canção que um "artista" deveria gravar, mas aí já fica pra outro tópico)
Que façam versões, não cópias.
As perversões, muitas vezes, como é de se esperar, geram negação.
E o cara pode errar também.
É o risco que ele se propôs a correr. (Quem não se lembra da maldita "versão" do Nenhum de Nós ( o nome já inspira a crítica) para Starman, de Bowie.)
Artistas brancos faziam ficar digeríveis canções de músicos negros para as classes A, B ou C.
Tanto o conteúdo quanto a forma (sim, no duplo sentido).
Os Beatles entendiam o processo, e evoluíram com ele.
Da evolução dos Beatles, improvável não admirar.
Evolução é individual, é de se esperar que alguém fique pra trás.
Provavelmente os fãs.

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